sexta-feira, 27 de março de 2009

Curso Sobre a Crise do Capitalismo


Curso sobre a
CRISE DO CAPITALISMO



PROGRAMAÇÃO:

O referencial teórico para compreender a Crise
29 de abril às 19h
Sergio Lessa (UFAL)

As Crises do Capitalismo
06 de maio às 19h
Márcio Pochmann (IPEA)

A Crise e os Trabalhadores
13 de maio às 19h
Ricardo Antunes (Unicamp)

Estado, poder e mídia na Crise do Capitalismo
20 de maio às 19h
Virginia Fontes (UFF)
Fabio Konder Comparato (USP)
José Arbex Jr. (PUC-SP)

Desafios dos trabalhadores diante da Crise
27 de maio às 19h
João Pedro Stedile (MST)


HORÁRIO: 19:00 às 22:00.
LOCAL: Auditório do Instituto Sedes Sapientiae
R. Ministro Godoy, 1484 - (próximo a PUC-SP e Av. Sumaré)

INSCRIÇÕES: 25 de março a 24 de abril. Vagas limitadas.

VALOR: R$ 200,00 e poderá ser pago em 2x via depósito, ou em 4x em Cheque ou Cartão de Crédito (Mastercard ou Visa).
Cada inscrito receberá uma assinatura ou renovação anual do Jornal Brasil de Fato gratuitamente.

CONTATOS:
• Correio eletrônico: cursosbrasildefato@gmail.com
• Blog: http://cursosbrasildefato.blogspot.com
• Telefone: 11 3104 6746

CERTIFICADO: 20 horas de atividade para os participantes.


PROMOÇÃO:
ENFF – Escola Nacional Florestan Fernandes
CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae
Departamento de Jornalismo da PUC-SP

segunda-feira, 23 de março de 2009

Síntese dos Elementos da Conjuntura – Março (fechamento 13/03/09)

Síntese dos Elementos da Conjuntura – Março (fechamento 13/03/09)

Fábio Bueno

O Debate sobre as perspectivas de duração e de saídas da crise

A partir do inicio de 2009, o debate envolvendo a crise internacional deslocou seu foco das preocupações quanto à origem ou natureza da crise para as questões envolvendo a duração e as possíveis soluções da mesma.

Na discussão sobre a perspectiva de duração da crise internacional, intimamente relacionada com a intensidade que a mesma pode atingir, ganha cada vez mais corpo a interpretação de uma crise prolongada e intensa. Por diferentes caminhos, autores como LEIVA (2008), BEINSTEIN (2009a e 2009b), BRENNER (2009), BELLUZZO (2009), ALVAREZ & MEDIALDEA (2009), ROUBINI (2009) e ROACH (2009) identificam como motivo chave da extensão prolongada da crise o desmantelamento dos mecanismos que propiciaram o crescimento econômico nas últimas décadas, ou seja, a relação entre especulação, concentração de renda, concessão de crédito e estímulo ao consumo norte-americano. Dado que todos estes elementos, simultaneamente, encontram-se em processo de retração ou desorganização, estaríamos diante da grande interrogação de quais novos arranjos poderiam substituir o finado esquema de acumulação mundial.

Outra linha de debate diz respeito às possíveis soluções para a dimensão bancária da crise atual. O Gráfico acima mostra a intensidade da queda no valor patrimonial (medido pela cotação no mercado acionário) de grandes grupos financeiros mundiais, colocando todos a beira da falência. Dado a diretriz da burguesia internacional de tentar evitar novas quebras, percebe-se claramente no debate a existência de um consenso sobre a necessidade de utilização da intervenção dos Estados Nacionais como ferramenta para controlar a situação. Entretanto, este consenso vem se desdobrando em um intenso e conflituoso debate sobre a forma da intervenção estatal: apenas emprestar aos bancos (ROACH, 2009); tornar-se sócio dos bancos e, isto acontecendo, a possibilidade ou não dos governos interferirem nas decisões dos bancos (PRADO, 2009; WOLF, 2009); assumir os empréstimos e aplicações problemáticos (PAGROTSKY, 2009; BRESSER-PEREIRA, 2009); ou ainda criar novos bancos públicos, deixando os bancos privados com problemas falirem (BARROS, 2009).

Ou seja, enquanto a burguesia não acordar uma forma de enfrentar os problemas bancários internacionais, e enquanto não se desenhar um novo esquema que possibilite a retomada do crescimento mundial (independente dos novos desequilíbrios e tensões que o mesmo possa vir a trazer), a crise econômica internacional tende a perdurar, abrindo possibilidades a novos eventos agregarem maiores desafios para sua resolução em termos capitalistas.

Economia Internacional

O cenário de forte desaceleração da economia internacional foi confirmado no quarto trimestre de 2008 pela diminuição conjunta do PIB dentro da OCDE, com destaque para o segundo trimestre seguido de retração japonesa (4,6% comparado ao mesmo período do ano anterior), muito mais forte que a européia (-1,21%) e norte-americana (-0,18%).

Quando analisamos o comportamento do investimento, os EUA apresentam o oitavo trimestre consecutivo de retração (cifra recorde de -6,3%), seguido pelo Japão com o quinto trimestre de retração (cifra também recorde de -7,5%), seguido pela primeira retração da Zona do Euro desde o inicio da crise (-0,54%). A sequência de retrações dos investimentos com intensidade crescente na OCDE exclui de um horizonte dos próximos meses a possibilidade de reversão na atual tendência de recessão.

A produção industrial também apresentou a mais forte retração até o momento no final de 2008. Ainda sem os dados da Zona do Euro, cuja produção já se contraia desde o segundo trimestre de 2008, o Japão apresentou a marca de incríveis 14% de retração na produção industrial no ultimo trimestre de 2008, seguida pelos EUA com diminuição de 6%. Tudo indica que a retração conjunta da produção industrial continuará a não contribuir para impulsionar o investimento e o crescimento do PIB nos próximos meses.

O comportamento do Consumo Privado na OCDE é outro elemento que reforça o prolongamento da desaceleração da economia. EUA (-1,34%) e Zona do Euro (-0,87%) apresentaram o segundo trimestre seguido de retração do consumo, ao passo que o Japão, pela primeira vez, também retraiu este tipo de gasto no ultimo trimestre de 2008 (-0,13%).

Já a dinâmica das exportações na OCDE mostra o terceiro mês seguido de diminuição acelerada do comércio internacional. O Japão, pela segunda vez com retração acima dos 10% (-10,6%), os EUA (-8,5), a Zona do Euro (-3,3%) e a China (-7,7%) apresentaram, em dezembro de 2008, uma forte queda do valor das exportações em relação ao mês imediatamente anterior.

Mantida a tendência, e nada até o momento corrobora pensar ao contrário, o ano de 2009 será de forte recessão sincronizada dentro do centro capitalista, restando acompanhar a intensidade que assumirá, dado a possibilidade da recessão transforma-se qualitativamente em uma depressão econômica.

O desdobramento da recessão sincronizada da OCDE no mercado de trabalho dos países centrais faz-se sentir mais intensamente no desemprego dos EUA (taxa recorde de 8,08% em fevereiro de 2009) e na França (8,3%). Os dados disponíveis mostram que a Alemanha apresentou uma leve queda (7,13%) no ultimo trimestre de 2008, mas com elevação em janeiro de 2009 (7,3%), mesma tendência seguida pelo Japão (4,4%).

Este quadro tende a apresentar uma substancial elevação das taxas de desemprego no centro capitalista no primeiro trimestre de 2009.

Economia Brasileira

Balanço de Pagamentos (US$ bilhões)

2007

2008


Transações Correntes

1,7

-28,3


Serviços

-13,1

-16,7


Rendas

-29,3

-41,1


Investimento Direto

17,5

26,8


Carteira

7,1

8,4


Outros

5,2

5,9


Balança Comercial

40,0

24,7


Entrada de Capitais

114,2

54,9


Investimento Direto

34,6

45,1


Carteira

48,1

-0,8


Ações

26,2

-7,6


Títulos

21,9

6,8


Outros

31,5

10,6


Fonte: Banco Central do Brasil




Os dados do Banco Central para o Balanço de Pagamentos do Brasil em 2008 mostram o retorno do déficit de transações corrente (US$ -28,3 bi) à economia brasileira, mas sem a presença dos clássicos processos de ajuste das economias dependentes: déficit comercial (em 2008, houve superávit comercial de US$ 24,7 bilhões) e fuga de capitais (entrada liquida, em meio à crise internacional, de US$ 54,9 bilhões). Outra singularidade da dinâmica brasileira em meio à crise é a elevação do patamar de envio de rendas, sob o título de lucros e dividendos, que chega a proporção de US$ 41,1 bilhões.

Entretanto, esta análise agregada para o ano de 2008 esconde uma possível mudança de tendência em relação ao superávit comercial e à entrada de capitais. Observando os dados mensais do Balanço de Pagamento (gráficos abaixo), percebemos que, a partir de setembro de 2008, a balança comercial apresenta queda no valor tanto das importações, quanto das exportações, sendo mais intensa nesta última (passa de US 19,7 bilhões em agosto de 2008 para US$ 9,7 bilhões em janeiro de 2009), o que levou a um déficit comercial de US$ 0,5 bilhões em janeiro de 2009. Já a entrada de capitais, após três meses de déficit, mostrou uma leve reversão (entrada de US$ 0,36 bilhões) em janeiro de 2009, com destaque para a modalidade de IDE que sempre permaneceu positiva. Nenhum desses dois processos, entrada de capitais e balança comercial, apresenta elementos que permitam ainda uma predição mais segura de sua trajetória futura, mas parecem trazer sinais de mudanças.

ÍNDICE DE QUANTUM DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

SEGUNDO CATEGORIAS DE USO



Período mensal



Base: Média 2006 = 100

Período

Capital

Intermediários

Consumo Duráveis

Consumo Não Duráveis

Combustíveis

Ago/08

110,5

106,8

86,9

107,6

141,7

set

184,2

107,1

98,6

112,1

95,2

out

107,2

105,1

94,6

115,0

113,8

nov

140,7

82,1

75,7

91,7

125,5

dez

130,9

78,4

80,0

94,3

190,3

jan/09

51,5

70,7

41,6

86,1

80,9

Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da SECEX/MDIC.








Ao analisarmos mais detalhadamente o desempenho do setor exportador brasileiro pela evolução dos índices de preços e de quantidades (gráfico ao lado), vemos que o mês de janeiro de 2009, além de continuar a tendência da queda de preços (número índice passa de 127,4 em dezembro de 2008 para 120,7 em janeiro), acentuou fortemente a queda nas quantidades exportadas (123,9 em dezembro de 2008 para 70,9 em janeiro).

Desagregando os dados das quantidades exportadas por categorias de uso (tabela de índice de quantum ao lado), constatamos que, à exceção dos bens intermediários (70,7) e de Consumo não duráveis (86,1), as demais categorias (Bens de Capital, Consumo Duráveis e Combustíveis) diminuíram pela metade as quantidades exportadas entre dezembro e janeiro, sugerindo que estas frações da burguesia exportadora passam por sérios problemas econômicos.

Indústria brasileira

Produção física industrial (Número-índice)

Base: igual mês do ano anterior = 100

Seções e atividades industriais

Mês


out/08

nov/08

dez/08 (A)

Jan/09 (B)

B/A

Indústria geral

101,06

93,58

85,23

82,77

-2,9%

Indústria extrativa

107,23

95,36

76,76

81,61

6,3%

Indústria de transformação

100,73

93,48

85,66

82,84

-3,3%

Maiores variações Negativas Indústria Transformação

Equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros

127,44

97,53

116,16

86,17

-25,8%

Diversos

103,97

91,79

96,68

76,15

-21,2%

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos

100,33

91,36

91,56

76,11

-16,9%

Farmacêutica

128,27

114,76

112,01

97,84

-12,7%

Maiores variações Positivas Indústria Transformação

Material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações

100,04

79,22

39,97

54,08

35,3%

Veículos automotores

103,53

81,73

49,14

65,52

33,3%

Borracha e plástico

95,55

83,45

68,74

76,49

11,3%

Têxtil

97,13

91,47

82,94

92,11

11,1%

Deslocando nossa analise para a dinâmica da indústria brasileira em geral, percebemos que a forte queda na produção física verificada em dezembro de 2008 diminuiu de intensidade em janeiro (-2,9%), com leve recuperação na produção da indústria extrativa (6,3%).

Ao desagregarmos os efeitos setoriais na Indústria de Transformação (que em seu conjunto diminuiu a produção em -3,3%), fica claro que os ramos mais atingidos em janeiro foram os de equipamentos de instrumentação e ópticos (-25,8%), diversos, máquinas e materiais elétricos (-16,9%), e farmacêutica (-12,7%). Já os setores de material eletrônico (35,3%), veículos automotores (33,3%), borracha (11,3%) e têxtil (11,1%) apresentaram aumento na produção em janeiro, mas em níveis muito abaixo do mesmo período do ano anterior. Com isso, é possível delinear um quadro nos últimos meses de problemas em algumas frações da burguesia industrial, principalmente às ligadas a produção de bens de capital e dependentes de crédito para as vendas (automotivo, eletro-eletrônicos).

Este quadro das frações burguesas da indústria mais afetadas é complementado por duas pesquisas recentes.

A primeira (BNDES, 2009), realizada com grandes empresas que acessam os recursos do BNDES, mostra através de consultas realizadas em agosto (um mês antes do agravamento da crise internacional) e dezembro de 2008, a diferença nas intenções de investimentos dessas empresas para o período de 2009 e 2012, captando assim os efeitos imediatos da crise nestes setores.

O quadro ao lado mostra que os setores ligados a exploração de Petróleo e Gás, Energia Elétrica e Telecomunicações, com previsão de investimento acima de R$ 50 bilhões, mantiveram inalteradas suas intenções na segunda rodada da pesquisa.

Adequação da capacidade produtiva à demanda prevista para 2009


Total

Industrias Extrativas

Indústria de Transformação

Veículos Automotores

Produtos de Metal

Metalurgia Básica

Borracha

54,7

51,8

54,8

62,8

62,5

62,4

59,5

Expectativa de compras de máquinas e equipamentos em 2009, em comparação com 2008

Total

Industrias Extrativas

Indústria de Transformação

Refino de Petróleo

Bebidas

Equip. Hosp. e de Precisão

Limpeza e Perfumaria

38,1

41,3

38,0

55,0

47,3

46,3

45,9

Já os setores dependentes de demanda externa (Extrativa Mineral, Siderurgia e Celulose), bem como os ligados ao desempenho do crédito interno (automotivo) diminuíram suas intenções de investimento.

Este quadro é corroborado pela Sondagem Industrial de fevereiro, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2009A). Nesta pesquisa, voltada também para as perspectivas de investimento em 2009, a indústria como um todo mostra que sua capacidade produtiva é adequada para a demanda esperada em 2009 (índice de 54,7, sendo que resultados abaixo de 50 pontos mostram a que demanda superará a capacidade de produção, requerendo novos investimentos), o que leva a menor perspectiva de investimentos e aumento da capacidade produtiva. É interessante notar que os índices para as indústrias automobilísticas e de metalurgia são significativamente maiores que o da indústria como um todo, reforçando o impacto da crise nestes setores.

Quando analisamos as intenções da mesma sondagem industrial para a compra de máquinas e equipamentos em 2009, verificamos a perspectiva de poucas compras (índices acima de 50 mostram a intenção de novas compras) para o conjunto da indústria (38,1), à exceção do setor ligado à exploração de petróleo, único com índices acima de 50, dado a exploração dos campos de petróleo na camada Pré-Sal.

Portanto, podemos traçar um quadro parcial das frações da burguesia mais afetadas que atuam na indústria: siderurgia, automotiva e bens de capital, as quais se juntam às frações exportadoras no rol de mais afetadas. Da mesma forma, fica claro que as frações que não sofreram com a crise seriam as ligadas a petróleo, energia e telecomunicações.

Setor financeiro e o crédito

Ao contrário do que vem ocorrendo nos países do centro capitalista, o setor bancário brasileiro não apresenta problemas patrimoniais. Pelo, contrário, vem de uma performance de sucessivos lucros recordes a partir de 2001, como mostra a evolução do lucro líquido dos 100 maiores bancos no Brasil, disponibilizados pelo Banco Central. Os dados de setembro de 2008 mostram que já se alcançou o nível do lucro de 2002 (9,79 bilhões), reafirmando a relativa solidez do setor em meio a crise.

Entretanto, a solidez patrimonial não impede que o setor comece um processo de reversão do ciclo de concessão de crédito iniciado em 2003, diante dos sinais de diminuição da produção industrial e de aumento no desemprego. O gráfico ao lado mostra que em janeiro, tanto o crédito para pessoa física (o estoque de crédito na modalidade passa de R$ 273,9 bi em dezembro de 2008 para R$ 272,7 bi em janeiro de 2009), como de pessoa jurídica (R$ 394,5 bi para R$ 384,2 bi), apresentaram queda simultânea no estoque de créditos concedidos, após um longo período de elevação das concessões.

Mercado de trabalho

A retração da produção industrial somada à diminuição das exportações marcou o comportamento do mercado de trabalho brasileiro em janeiro de 2009 (8,2%), que apresentou uma forte elevação de 1,4 pontos percentuais na taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, após atingir o menor valor da série em dezembro de 2008 (6,8%).

Essa elevação do desemprego já tinha sido captada pela pesquisa do CAGED/Ministério do Trabalho em dezembro de 2008 e confirmada em janeiro de 2009. Após o fechamento líquido de 654 mil vagas formais em dezembro de 2008 (em que pese tal mês sempre apresentar fechamento de vagas, a intensidade surpreendeu a todos), o CAGED acusa um fechamento de outras 101 mil vagas no mês de janeiro de 2009, conforme gráfico ao lado.

Quando analisamos a destruição setorial de postos de trabalho formais captadas pelo CAGED, ganha destaque i) a pronta resposta do setor de agropecuário, já demitindo em setembro de 2008, mantendo tal tendência até o presente momento; ii) a demissão generalizada em dezembro de 2008 e sua intensidade; iii) o fechamento de vagas na industria por três meses seguidos, e no comércio por dois consecutivos, mostrando que são estes setores que mais prontamente vem atacando a classe trabalhadora.

A perspectiva de aumento do desemprego é reforçada pelo resultado de uma pesquisa de intenção do empresariado (CNI, 2009B) diante de seus trabalhadores. Dos 431 empresários entrevistados, 36% apontam para a demissão e suspensão de serviços temporários e outros 24% para a redução da jornada de trabalho com redução salarial.

Estado Brasileiro

Outro importante elemento para a conjuntura econômica e política brasileira é a dinâmica do Estado brasileiro frente à crise. Historicamente um fator adicional de tensão e problemas macroeconômicos em momentos de crise, o Estado brasileiro alterou qualitativamente nos últimos anos o canal tradicional de transmissão de crises externas: o montante e o perfil da dívida publica.

A trajetória do total da Divida Líquida do Setor Público como proporção do PIB vem diminuindo sistematicamente a partir de 2004, em função da queda da dívida externa pública (o Brasil passa a condição de credor a partir de 2006), muito mais intensa que o ritmo de elevação da dívida interna.

O alívio vindo da queda da divida externa poderia ser compensado por problemas no aumento da divida interna, se não fosse uma importante mudança na composição desta ultima, como nos mostra o gráfico que traz a participação relativa dos indexadores da divida pública federal (primeiro gráfico da próxima página). A quase eliminação de títulos indexados à variação cambial, somado a diminuição dos títulos indexados à SELIC (taxa de juros de curto prazo) diminuem substancialmente a possibilidade de aumento no pagamento de juros quando uma crise externa acarreta a elevação simultânea da taxa de juros e do cambio.

Considerando o constante aumento da proporção do pagamento do serviço da dívida no orçamento do estado Brasileiro (AUDITORIA CIDADÃ DA DIVIDA:2007,46), a diminuição da proporção de divida externa, somada à mudança na composição da interna, permitem um menor atrito entre as frações da burguesia detentoras da dívida e aquelas que recorrem a programas de ajuda do Estado brasileiro.

Perspectivas de lutas

É possível relacionarmos os efeitos da crise internacional sobre algumas frações da burguesia no Brasil, o ataque das mesmas contra os trabalhadores e as lutas gerais mais eminentes que a esquerda vem desenvolvendo, conforme a tabela abaixo.

Percebemos que das três frações menos atingidas (Petróleo, Energia e Bancos), duas são objetos de mobilizações e campanhas e nenhuma das três apresentou ataques imediatos aos trabalhadores na forma de desemprego ou retirada de direitos nos últimos meses (fator que pode vir rapidamente a se alterar).

Por outro lado, as quatro frações mais atingidas pela crise movimentaram-se no sentido de demissões e diminuição de direitos. Tais setores são, em sua maioria, objeto de mobilizações sindicais pela preservação do emprego e dos direitos, sendo que os setores agroexportadores são objeto de embate da Via Campesina.

Ou seja, i) a luta sindical desenrola-se justamente nos setores em que a burguesia foi mais afetada economicamente pela conjuntura da crise, ganhando relevância a mobilização da esquerda para possíveis vitórias políticas contra tais setores; ii) a conjuntura mostra campanhas que dirigem-se contra os setores menos afetados da burguesia, as quais teriam menor possibilidade de vitórias e conquistas políticas no momento;

Relação entre setores burgueses mais afetados pela crise e lutas da esquerda

Fração da Burguesia

Afetada pela crise internacional?

Ataque imediato aos trabalhadores?

Luta/Campanha

Exploração e Refino Petróleo

Parcialmente

↓preço, mas tem investimento no pré-sal

Não

O Petróleo é Nosso

Energia Elétrica

Não

investimento no complexo do Rio Madeira

Não

O Preço da Energia é um roubo

Exportação (commodities)

Sim

↓preço e ↓ quantidade

Sim

Demissão (Aracruz)

Transgênicos

Agrocombustíveis

Industria de Bens de Consumo Duráveis

Sim

retração da produção

Sim

demissão e retirada direitos

(Metalúrgicos)

Sindical

Industria de Bens de Capital

Sim

retração da produção

Sim

Demissão (Embraer)

Sindical

Industria Extrativa Mineral

Sim

↓preço e ↓ quantidade exportada

Sim

demissão e retirada direitos

(Vale)

Sindical

Bancos

Não

mantêm lucros

Não

-

Referências

ÁLVAREZ, Nacho & MEDIALDEA, Bibiana. Financiarización, crisis econômica y socialización de las perdidas. Revista Viento Sur, nº 100, janeiro de 2009. http://www.vientosur.info/articulosabiertos/VS-100-02-alvarezymedialdea-financiarizacion.pdf

AUDITORIA CIDADÃ DA DIVIDA. Cartilha ABC da Dívida - Sabe quanto você está pagando?, 3ª Edição, 2007. http://www.divida-auditoriacidada.org.br/

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Apresentação na Reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico. 05/03/2009. http://www.bcb.gov.br/Pec/ApPron/Apres/CDES%20050309%20final.pdf

BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – BNDES. Perspectivas de investimentos 2009/12 em um contexto de crise. Visão do Desenvolvimento, Nº 60, fevereiro de 2009.

BARROS, Luiz Carlos. Ainda a minha colher. Folha de S. Paulo - 13/02/2009

BEINSTEIN, Jorge. Hacia la desintegración del sistema global - señales de implosión. 03/03/2009a. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=81659&titular=se%F1ales-de-implosi%F3n-

______ A junção depressiva global (radicalização da crise). 2009b. http://www.resistir.info/crise/beinstein_14fev09_p.html

BELLUZZO, Luiz. Ascensão e queda da inflação de ativos. Valor Econômico - 03/03/2009.

BRENNER, Robert. Un análisis histórico-económico clásico de la actual crisis. 2009. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=81340&titular=un-an%E1lisis-hist%F3rico-econ%F3mico-cl%E1sico-de-la-actual-crisis-

BRESSER-PEREIRA, Luiz. Por onde atacar a crise? Folha de S. Paulo - 16/02/2009

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI. Sondagem Industrial. Ano 7, Número 01, fevereiro de 2009A.

______ Consulta empresarial. Ano 2, número 01, março de 2009B.

LEIVA, Orlando Caputo. La economía mundial a inicios del siglo XXI: La crisis actual de la economía mundial - Una nueva interpretación teórica e histórica. http://www.rebelion.org/docs/80957.pdf

PAGROTSKY, Leif. "Bancos ruins" são uma boa ideia? Valor Econômico - 26/02/2009

PRADO, Maria Clara. Difícil solução para os bancos. Valor Econômico - 26/02/2009

ROACH, Stephen. Una conmoción letal. 2009. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=81490&titular=crisis:-lo-peor-est%E1-por-venir-

ROUBINI, Nouriel. Aviso: se avecinan tiempos sombríos. 2009. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=81490&titular=crisis:-lo-peor-est%E1-por-venir-

WOLF, Martin. As lições japonesas. Valor Econômico - 18/02/2009.